Sentir a Música

Já imaginaram alguma vez como seria poder ouvir música, sentir todas as sensações que ela nos provoca e, no entanto, não conhecer as imagens dos instrumentos que são tocados, identificando-os apenas pelo som produzido? Parece uma pergunta complicada mas que nos faz pensar. Posso dizer-vos que, para quem está neste papel, a curiosidade de conhecer esses instrumentos musicais é enorme. E eu, que faço parte desse grupo de pessoas, resolvi debruçar-me sobre este assunto.
Neste ano iniciei um projecto exactamente neste sentido, ou seja, de tentar dar a conhecer instrumentos musicais a pessoas cegas através de uma exposição. Os instrumentos musicais são muito variados e, por essa razão, comecei por fazer um inquérito para, além de outras questões, saber quais os instrumentos mais conhecidos pelas pessoas cegas e aqueles que as mesmas têm mais curiosidade em conhecer. As respostas a ambas as perguntas foram variadas mas deu para perceber que praticamente todos os cegos têm curiosidade em conhecer pelo menos um instrumento, sendo o violino o mais escolhido pelo grupo de pessoas inquiridas.
Para além dessa exposição que ainda não foi realizada, pretendo também sensibilizar a comunidade geral e, sobretudo, professores de música, para o ensino e aprendizagem da musicografia Braille que é, para quem não sabe, a representação da escrita da música em Braille. Esta representação não é algo fácil de aprender pois envolve muitos símbolos um pouco difíceis de decorar devido à sua complexidade e também devido ao seu número. Esta escrita não é ensinada a alunos cegos na escola pois não há quem faça esse trabalho. São poucas as pessoas cegas que têm um conhecimento total da musicografia Braille e penso que a maioria dos professores de música sem deficiência visual nunca ouviu falar em tal coisa. Tudo isto faz com que a musicografia Braille não seja muito divulgada e até posta de parte, o que, na minha opinião, não é correcto.
Este projecto ainda não foi concluído. Aliás, ainda há muito por fazer com o objectivo de nos pôr em igualdade de circunstâncias, ou seja, com possibilidade de conhecer verdadeiramente os instrumentos musicais e com a possibilidade de aprender algo que todos aprendem na escola. Por isso, quem estiver realmente interessado no projecto, não se limite a apoiar mas também a contribuir!